Depois de tantos anos transmitindo, ao vivo, os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Rede Globo acertou o passo e fez um carnaval correto, informativo, sem excessos e com descontração proporcional à intimidade da emissora com o assunto. A “comentarice aguda” que sempre rondou a narração dos desfiles de escolas de samba, ocupando mais tempo e espaço do que a curiosidade do espectador comum comportava, deu um descanso este ano. Faltaram sinopses dos enredos e letras dos sambas correndo na tela, para melhor envolver o folião caseiro. Em compensação, houve silêncios em que era possível simplesmente apreciar a evolução da escola, ouvir o samba. Um raro prazer.
Glenda Kozlowski e Luis Roberto, narradores, mostraram alegria, envolvimento e empolgação. Sabe-se que a preparação da equipe começa ainda nos barracões, nas quadras das escolas, muitos meses antes de o Carnaval ir para a avenida. Por isso a justa sensação de intimidade dos narradores com o desfile, os enredos, as escolas e até com as perdas no incêndio dos barracões.
A tecnologia marcou a cobertura do Carnaval 2001. Os desfiles das escolas de samba foram exibidos em HD – alta definição – e, pela primeira vez, exibidos em 3D pelo canal 701 da Net, para quem tivesse equipamento compatível. Os clientes da TIM, patrocinadora do espetáculo, também podiam assistir os desfiles pelo telefone. E Donga, compositor do primeiro samba gravado – Pelo telefone –, será que ele podia sonhar com isso? Desfile pelo telefone…
As 40 câmeras da emissora deram uma múltipla dimensão do desfile, proporcionando ao telespectador uma rica visão, ora panorâmica, ora intimista. As imagens aéreas davam uma perspectiva completa da evolução das escolas, da harmonia do conjunto. A captação especial do áudio no recuo da bateria destacou o coração das escolas, identificou instrumentos, explicou a batucada.
Ana Paula Araújo comandou o Estúdio Globeleza com desenvoltura, coordenando com habilidade a alternância das fontes de informações, bem à vontade também com a telona touch screen, de onde pilotava a comunicação. Fernanda Abreu, Helio de La Peña, Teresa Cristina, Haroldo Costa e Chico Pinheiro formaram um simpático time de comentaristas, mais preocupados em gostar do que em encontrar falhas no espetáculo. Eri Johson substituiu Fernanda Abreu, não ajudou, nem atrapalhou. Houve quem reclamasse dessa escalação, porém, o desfile é transmitido para o mundo inteiro, para entendidos, desentendidos e gente que nunca ouviu um samba na vida, nem faz idéia do que seja Carnaval. Como explicar uma festa como essa para pessoas comuns do mundo todo? As imagens devem falar por si.
Simpática a cobertura da arquibancada, de Mariana Gross, super à vontade no meio do povão. Renato Ribeiro deu conta da difícil dinâmica da pista, cheio de energia. O telespectador mandou torpedos, comentários, vídeos, dando a dimensão do alcance da transmissão desse que é, realmente, o maior espetáculo da terra. A interatividade mostrou que o júri caseiro, e anônimo, é muito mais exigente que o júri profissional.
O incêndio na Cidade do Samba acrescentou emoção ao desfile da Sapucaí, momento em que culminam expectativas de realização e a catarse de milhares de pessoas. Por isso, o destaque da cobertura do Carnaval 2011 ficou com a super-repetida palavra superação. Se foi possível para Portela, União da Ilha e Grande Rio reconstruírem seus desfiles com tanta competência em menos de um mês, e quase sem recursos, cabe refletir sobre o quanto o Carnaval carioca se deslumbrou com os holofotes e perdeu a dimensão da sua mola mestra e inexorável: a simplicidade, o amor ao estandarte, a dedicação da comunidade e o samba no gogó, no pé e na veia. Sem isso, não há carnaval, não há verdade, nem nada a comentar.